Por: Camila Sá
Essa não é uma história de um casal homossexual, é uma história de amor. O documentário “Bridegroom”, com direção de Linda Bloodworth Thomason. Linda conheceu a história a partir de um vídeo de 10 minutos, postado por Shane.
O documentário mostra como dois garotos de uma cidade do interior se conheceram em LA e passaram a se aceitar e ser quem realmente eram, longe da opressão de cidade natal e da família de um deles. Acompanhamos a vida de cada um até o momento do encontro e, a partir daí, nos apaixonamos por eles como eles se apaixonaram. É inevitável.
Até porque para esse sentimento não há fronteiras e nem distinções. Mas infelizmente e até hoje, Shane Bitney Crone e Tom Bridegroom tinham que lidar com a sociedade e seus julgamentos, e para Tom era mais difícil, pois os pais não o aceitavam.
No ínicio, houve bastante resistência mas a mãe acabou cedendo aos poucos e “aceitando” a relação homoafetiva. Só que os planos de Deus pareciam ser outros… Tom foi fazer uma sessão de fotos com uma amiga no terraço de um prédio e acidentalmente caiu de quatro andares.
Horas depois, faleceu no hospital. Ele e Shane já dividiam a vida juntos há seis anos, mas não eram casados. Esse simples detalhe dificultou bastante o acompanhamento de Shane com o companheiro no hospital, só conseguindo vê-lo depois de muito esforço, porque “não era da família do paciente”. Como se não bastasse a perda, a mãe de Tom o privou de ir ao funeral e participar de qualquer outro evento que fizesse menção ao filho, o ameaçando. Coisas que poderiam ter sido evitadas se a união estável homoafetiva fosse reconhecida.
Em momento nenhum a família citou a vida de Tom e o relacionamento com o parceiro em LA, no funeral. Como se aquelas memórias nunca tivessem existido. Parte da vida que foi mais feliz por sem quem era sem ter que se esconder, quando pode fazer o que quis longe de um estado pequeno, com pensamentos limitados, e do pai machista.
Eu chorei muito e estou chorando até esse momento. Entendo que o preconceito de muitas pessoas é até mesmo inerente à elas próprias, pois passaram a vida inteira escutando que aquilo não era certo. Não há mesmo como ter muita esperança que isso mude, mas dói. Dói saber que homossexuais são expulsos de casa como se isso fosse um crime, que são rejeitados pelos pais e pela sociedade como se fossem móveis velhos e inúteis. Me dói tentar entender que pecado tão grande é esse que alguém comete por gostar de alguém do mesmo sexo, imaginar que para um pai seu filho é resumido apenas a sexualidade. Ver esse documentário me deixou muito triste, porque eu sei que isso acontece e vai continuar acontecendo, por causa da ignorância das pessoas.
Mesmo após a perda do filho, os pais de Tom tentaram mostrar aos outros o que queriam que eles enxergassem. Ele era o menino do interior, popular na escola, bem educado. Mas também era gay, tinha estudado em Los Angeles, fazia o que gostava, viajava o mundo, tinha um namorado e um cachorro, era muito feliz.
Esse menino, que faleceu, hoje vai inspirar muita gente, mas mesmo assim ainda não conseguiu tocar o coração dos próprios pais.