Para mim, a temporada de premiações 2024 entrou para a história, não só pela campanha do filme brasileiro “Ainda Estou Aqui”, com pela presença do Walter Salles, meu diretor brasileiro favorito, da diva hilária Fernanda Torres e ícone Selton Mello, em vários eventos e festivais em Hollywood.
Há mais de 10 anos eu cubro a campanha do Oscar e é a primeira vez que um filme brasileiro é um dos favoritos para receber uma indicação na categoria filme internacional. Um marco na minha vida cinéfila e na minha carreira de jornalista de entretenimento.
Eu assisti “Ainda Estou Aqui” duas vezes e estive com Walter Salles, Fernanda Torres e Selton Mello também nas duas ocasiões. No final desse post, eu compartilho as matérias onde conto tudo sobre esses momentos inesquecíveis, e exibo orgulhosa as minhas fotinhos com a diva Torres e a sensação do Instagram Selton.
Na matéria de hoje, vocês vão ver os detalhes do painel do filme no Deadline Contenders, um dos eventos famosos na corrida do Oscar. E é importante destacar aqui que o Deadline tem um evento virtual que é dedicado apenas aos filmes internacionais. Mas, “Ainda Estou Aqui” foi convidado para participar não só do evento virtual, que vai acontecer no próximo sábado, dia 7 de dezembro, a partir das 9h, em LA, 14h no horário de Brasília, como também foi atração no evento presencial, em Los Angeles. Eu vou ao Contenders há anos e pouquíssimos filmes que são falados em outros idiomas, além de inglês, participaram do painel principal. A gente, que se especializa na cobertura da campanha de premiações, sabe que participar desse evento promovido pelo Deadline é um investimento que a Sony Classics, distribuidora do filme, fez com o nosso filme para marcar que, “Ainda Estou Aqui”, não está só na corrida para uma indicação na categoria melhor filme estrangeiro, como também na categoria melhor filme, melhor diretor e melhor atriz . Estamos na torcida e, independente do que aconteça, é lindo ver o cinema brasileiro brilhar em Hollywood e levar as pessoas de volta ao cinema, batendo recordes de bilheteria no Brasil.
Os destaques do painel de “Ainda Estou Aqui” com Walter Salles e Fernanda Torres está abaixo, assim como o link do vídeo do painel na íntegra, em inglês.
Walter Salles
Sobre sua ligação pessoal com a família Paiva, que inspirou a história de “Ainda Estou Aqui”:
“Primeiramente, bom dia. É um prazer muito grande ver um teatro cheio de pessoas falando sobre cinema. Não tem nada mais bonito do que isso. * aplausos *
Quando eu tinha 13 anos, eu fiquei amigo das crianças e jovens dessa família. Eu fiquei encantado com o coração generoso e afetuoso e a alegria dessa família, que contradizia com a ditadura militar que acontecia no país, naquele momento. Durante dois anos, eu convivi com aquela família alegre, que está no primeiro ato do filme. Até que um dia, de repente, uma tragédia acontece e a alegria daquela família é roubada. E esse episódio trágico, que transformou a vida deles, qficou na minha cabeça. A história ficou dentro de mim para ser contada 40 anos depois.
Fernanda Torres
Sobre Eunice: “A Eunice era uma mulher brasileira desconhecida, uma pessoa incrível. O Marcelo escreveu esse livro e descobriu que a sua mãe era a grande heroína dessa família. E, de repente, o Walter veio com a ideia de fazer o filme – baseado no livro – e tudo que a gente queria era ser fiel a quem a Eunice foi na vida, uma mulher muito esperta, muito inteligente. Ela começa o filme como uma dona de casa e, graças à tragédia, ela se forma em direito, se torna uma advogada especialista em direitos humanos. E, ela fez isso usando seu sorriso como arma, controlando as suas emoções. E eu descobri a importância de conter as emoções ao interpretar a Eunice. Porque como atriz, às vezes, você quer demonstrar a emoção, olha aqui como eu choro bem. E, através dela, eu percebi como era importante conter as emoções, porque me permitiu deixar de atuar e passar a ser a personagem. Isso é muito raro. A gente conseguiu isso através do nosso objetivo de honrar quem a Eunice era na vida real.
Sobre a simbologia do filme: “Esse filme tem muitas camadas e muitos símbolos porque o Walter viveu essa história. Através do filme ele abriu novamente as portas dessa casa que, pelo corpo do Rubens nunca ter aparecido, se tornou o corpo do Rubens, uma prova de que ele realmente existiu. E o Walter fez tudo isso através do cinema.
Outra coisa é que esse filme é sobre resiliência. O interessante é que eu fiz um filme com o Walter há 30 anos (agora Claudia escrevendo – o espetacular “Terra Estrangeira”, por sinal, quem não viu faça um favor a si mesmo e assista já!) e eu vi o Walter nascer como diretor, depois ele fez o Central com a mamãe * aplausos * e agora eu e a minha mãe estamos nesse filme juntas. Ela que me passou tudo na vida, que me ensinou tudo que eu sei. Isso é uma prova que a arte é resistente também. E isso é mais que um filme, esse é um filme que acontece em muitas camadas, é muito especial. Eu sei que uma experiência como essa nunca mais vai acontecer na minha vida.”
Walter
Sobre a importância desse filme nesse momento: “Engraçado que quando esse projeto começou, a gente achava que essa história era um reflexo do passado. Até porque o cinema brasileiro nunca focou muito nos anos 70 e eu senti a necessidade de fazer um filme que refletisse essa época. Mas, a situação política do Brasil, e do mundo, mudou muito (com o avanço da extrema direita) e a gente percebeu que estávamos fazendo um filme que reflete o presente também. E essa percepção não foi só pra quem estava à frente das câmeras, mas nos bastidores também. Tem um cineasta russo que diz que um filme acontece quando todo mundo que está envolvido, está fazendo o mesmo filme (na frente e por trás das câmeras) e esse entendimento do elenco e da nossa pequena equipe, foi fundamente para o sucesso do projeto. Todos nós tínhamos consciência que a gente estava fazendo um filme sobre a realidade hoje e isso nos ajudou a ficar bem focados. O que foi importante porque nós rodamos o filme em 35mm (em filme, não digital) * aplausos * eu adorei que essa é uma plateia de cinéfilos – enfatizou Walter – e os takes em Super 8, foram realmente rodados em Super 8, não tem nada artificial no filme e nós rodamos em ordem cronológica. Foi importante pra gente mostrar a relação boa da família, no primeiro ato do filme, e convidar o público a fazer parte daquela família. Eu amo cinema e o importante pra gente foi dar um tom realista desde o início, sabendo que estávamos contando uma história baseada em fatos, no passado, mas também sobre o nosso presente, nossa realidade atual.”
A recepção do filme no Brasil: “O cinema brasileiro foi muito impactado pela pandemia e as pessoas pararam de ir ao cinema. Então a gente não sabia o que esperar. Mas as salas estão lotadas, os cinemas estão cheios novamente. O filme é o número 1 no Brasil, na frente do filme da Marvel, que é o número 2. Já arrecadou mais de 1 milhão em bilheteria. Mas, o importante mesmo não é que o faturamento da bilheteria, mas sim que as pessoas estão indo ao cinema novamente, para ter uma experiência coletiva. E isso é especial. A gente não esquece um momento, como hoje, um momento único, que estamos vivendo juntos, coletivamente. E é isso que está acontecendo no Brasil, as pessoas tem ficado até o final dos créditos e postam a experiência delas nas redes sociais. A gente nem sonhava com isso. O filme virou um fenômeno sociológico, político, cultural. E a gente não poderia imaginar isso. E eu acho que a literatura, o cinema, a música são instrumentos poderosos contra a ignorância * aplausos * e é isso que une todos nós. Estamos na mesma batalha, a batalha contra a ignorância.”
O moderador já estava se despedindo, quando Walter pediu a palavra novamente para fazer uma última declaração:
“Queria dizer só mais uma coisa, durante a jornada de “Central do Brasil”, eu percebi que a Fernanda Montenegro, a sua mãe – falou Walter para a Torres – elevou o filme e isso fez com que todos nós fôssemos melhores do que a gente realmente era, para chegar ao nível dela. E, nesse filme, nós não estaríamos aqui, não teríamos sido convidados para fazer parte dessa incrível jornada e troca com vocês, se a Fernanda não tivesse elevado o nível do filme como ela fez. Foi realmente extraordinário.”
E assim, o diretor e a atriz se despedem de um dos painéis mais aplaudidos do dia.
Quem quiser assistir ao vídeo completo painel do Deadline Contender, só clicar:
Para conferir o bate-papo de Fernanda e Selton no AFI Fest, em Los Angeles e nosso encontro com os atores, o diretor Walter Salles, numa sessão especial do filme, apresentada pelo ator Sean Penn, na CAA, em LA. Corre aqui: