Eu não tive oportunidade de assistir muitas óperas, embora as poucas que vi tenham me fascinado. Ao mesmo tempo, eu sempre fui fã de Maria Callas, a diva absoluta da ópera, que faleceu quando eu ainda era criança, mas que permaneceu viva no rico legado que deixou na música e na cultura mundial.
Callas foi uma daquelas pessoas com uma voz e um talento que nascem a cada 100 anos, provavelmente no tempo em que eu viver, não teremos outra como ela.
Ao longo dos anos, eu li bastante sobre sua trajetória intensa e complexa, os altos e muitos baixos do seu relacionamento com o bilionário Onassis, o triângulo amoroso entre Callas, Onassis e Jackie Kennedy, e fiquei muito empolgada quando soube que Angelina Jolie interpretaria esse ícone, no filme dirigido por Pablo Larraín, que vai estrear dia 11 de dezembro na Netflix.
O longa retrata o período em que a soprano greco-americana se refugia em Paris, após uma vida pública marcada pelo glamour e pela turbulência. Maria revisita os últimos dias da lendária artista, destacando o momento em que ela reflete sobre sua trajetória e identidade, na França dos anos 1970. Fonte: AdoroCinema
Agora, se eu já estava animada para ver o filme na telona, numa sessão especial promovida pelo Film Independent, imagina quando soube que Jolie estaria lá pessoalmente, acompanhada de Pablo, do premiado diretor de fotografia Ed Lachman e do produtor de arte Guy Hendrix Dyas?! Abracei minha alma de fã e cheguei cedo pra sentar bem na frente e ficar colada com essas feras, especialmente Angelina que admiro há anos.
Quando Jolie, mais linda que nunca, entrou no teatro, ela foi aplaudida por longos minutos pela nossa plateia entusiasmada. A atriz chorou e agradeceu com lágrimas o carinho de todos.
O filme é lindo. Triste, bem triste, mas tanto a fotografia quanto a produção de arte são impecáveis, a direção é caprichada, os figurinos, a caracterização são pura perfeição. Isso sem contar com a música, que toca fundo na alma. Mas é a performance de Angelina Jolie que nos deixa mais boquiabertos. Angelina, que já ganhou o Oscar, é uma das favoritas para receber uma indicação na categoria melhor atriz esse ano. E, falo como fã, mas principalmente como cinéfila, ela merece.
Abaixo estão os destaques do papo incrível e revelador, que rolou depois da sessão.
Angelina Jolie
“Foi uma responsabilidade abraçar Maria Callas, mas eu devo dizer que foi ainda mais desafiador porque eu não queria decepcionar o Pablo que é muito fã dela e, mais, sabe tudo de ópera, mas tudo mesmo.”
Pablo Larraín
“Você superou todas as expectativas. Eu cresci ouvindo Ópera, por conta da minha mãe. Ela amava e era obcecada pela Callas. Esse era um universo muito familiar pra mim, porque eu realmente amo Ópera. Eu sabia que Callas estaria segura nas mãos de Angelina, mas eu também tinha uma responsabilidade grande de fazer jus ao meu ídolo.
Acho importante destacar a dedicação da Angelina para esse trabalho. Ela mergulhou de corpo e alma. E, vamos combinar, que não é fácil cantar ópera, ainda mais como Maria Callas. A Angelina estudou muito, treinou muito. A voz que vocês ouvem é a voz dela mixada com a Callas. Ela cantava no estúdio, e emocionava toda a nossa equipe. Eu sei que foi desafiador para ela, até porque esse roteiro é uma montanha-russa de emoções profundas, mas pelo que vocês viram na tela, ela se superou na pele de Maria.”
* Muitos aplausos*
Angelina, emocionada
“Muito obrigada. Realmente foi um desafio. Até porque, eu tive um relacionamento com uma pessoa não muito legal, que me disse que eu não tinha voz pra cantar, que eu não era boa e não conseguiria cantar. Por mais que a gente tente esquecer, quando alguém próximo fala uma coisa dessas pra gente, acaba ficando em nosso subconsciente e, no meu caso, eu acreditei na pessoa. Aceitei esse desafio, mas de certa forma, me boicotando internamente. Então não foi fácil, mas, à medida que fui estudando, aprendendo, e com o incentivo do Pablo e de toda a equipe, que foi sensacional, e me deu muito suporte no set, eu consegui acreditar em mim mesma e superar os fantasmas e as vozes do passado.”
*Muitos aplausos*
Pablo
“Esse suporte da equipe foi fundamental pra mim também. Eu não conseguiria fazer isso sozinho, por isso me cerquei dos melhores profissionais. Gênios como o Guy e o Ed, que me ajudaram a dar vida ao roteiro excepcional do Steven Knight. Eu fui muito meticuloso e, para a nossa sorte, tínhamos muito material a nossa disposição, gravações, vídeos, fotografias, reportagens, o que ajudou muito, pois, desde o início, a minha ideia era reconstruir exatamente todos os momentos da Maria no palco, exatamente como eles aconteceram, com a cenografia, o figurino, a música. Queria rodar nas locações originais. E o Guy foi uma ajuda fundamental nesse processo.
E o Ed é brilhante, todo mundo sabe disso, mas nesse projeto, ele foi fundamental para dar o tom do filme, que oscila entre a realidade do momento, o passado e a fantasia da Maria. A fotografia fez isso.”
Pablo
“Esse trabalho foi bem intenso, mas um dos melhores projetos que já fiz parte, justamente pelo comprometimento do Pablo com a perfeição.
Eu e ele visitamos absolutamente todas as locações que vocês viram no filme e reproduzimos com todos os detalhes, nos sets, que eram gigantescos. Mas, pra mim, acho que o auge foi conseguirmos rodar no iate do Onassis. Eu tinha feito uma pesquisa e sabia que o Iate ainda existia, mas não tinha ideia se conseguiríamos alugar para rodar as cenas lá. Falei com o Pablo, que não mediu esforços pra fechar a locação. A gente não precisou fazer nada lá, porque o iate continua exatamente como era na época das festas do Onassis e quando Callas frequentava. A gente sentia a energia. Foi surreal.”
Angelina
“Foi realmente muito legal termos a oportunidade de rodar no iate, mas todas as locações, os sets, foram perfeitos, assim como o figurino e a caracterização, me ajudaram a entrar e viver o universo da personagem. Além da música, claro. Foi tudo feito com muito cuidado, capricho e os sets eram majestosos. Assim como a fotografia do filme.”
Ed Lachman
“Eu e Pablo conversamos bastante antes de começarmos a rodar, para acharmos o tom do filme, especialmente para diferenciar a realidade, da fantasia, o passado, especialmente a juventude dela – que tinha um tom diferente do passado da vida adulta – do presente que são os últimos dias de vida dela. A gente usou recursos para que ficasse claro, ao mesmo tempo, desse um ar de mistério ao filme. E o Pablo queria que as cenas de Ópera tivessem a luz da apresentação original. Esse foi o nível de cuidado que tivemos nesse projeto. Mas o resultado foi positivo.”
Pablo
“A gente teve realmente muito cuidado com todos os detalhes para honrar a trajetória da Maria Callas que admiro tanto. Esse filme foca em seus últimos dias, quando ela perdeu sua voz, seu momento de maior vulnerabilidade, até a sua partida. Mas, a minha intenção, era mostrar também os seus dias de glória, contar a história de sua vida, que não foi nada fácil e a sua relação com o Onassis que a deixou muito fragilizada, quando ele não assumiu o compromisso com ela e casou com Jackie Kennedy. Ela teve uma vida de muita solidão, sofrimento, não foi só glamour e eu achava importante que isso fosse mostrado de uma forma criativa e bela, como o legado que Callas deixou pro mundo.”
Angelina
“O Pablo tinha uma visão muito clara dessa homenagem à Maria, de mostrarmos suas verdades. Uma das cenas que mais gosto no filme é o encontro dela com a irmã, acho que deixa claro muita coisa sobre as mágoas que ela carregava em consequência dos abusos que sofreu na juventude. E ela foi muito injustiçada também pela mídia. Eu sei que não é fácil lidar com o que falam da gente, fere e magoa. Eu me identifico com alguns aspectos da jornada dela, mas diferente da Maria, ela só tinha a voz dela, e quando a perdeu, ela não tinha mais nada, não tinha mais motivação para viver, já eu tenho a minha família. Então, posso fazer muitas outras coisas, tenho outros interesses além de atuar. Mas é claro que minha profissão também é muito importante pra mim. Eu a entendo ainda mais, agora que a conheço bem.”
“Eu fiquei afastada um tempo, sem fazer filmes, e eu senti falta dessa comunicação com vocês, dessa energia, por isso me emocionei com a reação carinhosa de vocês em relação a esse filme. Muito obrigada! Me sinto muito honrada e feliz de estar aqui. De voltar a atuar.”
Angelina Jolie é uma querida. Muito simpática e está mais bela que nunca na maturidade. Sua performance de Maria é até maior que o filme, e eu que já era fascinada pela jornada de Callas fiquei ainda mais impressionada.
Quanto ao boy lixo que falou pra Jolie que ela não conseguiria cantar, o sucesso de Maria fala por si só.
Quem puder, assista no cinema. O filme é belo e ganha outra vida na telona. De qualquer forma, vale ver na Netflix, a partir do dia 11 de dezembro, também.