“O Aprendiz”: O filme sobre o jovem Donald Trump que foi quase banido nos Estados Unidos

 
“Eu estou muito feliz que vocês vão conseguir ver esse filme no cinema, nós EUA, hoje. Talvez alguns de vocês saibam que foi uma saga produzir o filme e conseguir distribuir nos EUA, sem cortes. Ainda corremos risco de sermos processados, mas o importante é que vocês vieram, obrigada pela presença. Eu gostaria que vocês assistissem “O Aprendiz” como um filme, não como parte de uma campanha política ou partidária. Eu sou iraniano, não moro aqui, não voto aqui, então meu objetivo como diretor desse brilhante roteiro do Gabriel Sherman, era dar vida a essa história, por isso eu peço a todos que vejam como uma obra cinematográfica. Espero que gostem.”
 
Assim, o diretor Ali Abassi apresentou “O Aprendiz”, um dos filmes que causou mais buzz durante os festivais, já que Donald Trump ameaçou processar os produtores, alegando que o roteiro, sobre sua relação com o advogado Roy Cohn e sua ex esposa, Ivana Trump, era mentiroso. O processo não foi adiante ainda, mas considerando que estamos falando de Donald Trump, tudo pode acontecer.
 
 
“O Aprendiz” acompanha a ascensão da carreira de um dos maiores empresários dos Estados Unidos e o 45º Presidente do país, Donald Trump. A trama segue um jovem Trump (Sebastian Stan) na cidade de Nova Iorque entre os anos 70 e 80, tentando erguer um novo império de negócios imobiliários, além de sua relação com o advogado Roy Cohn (Jeremy Strong). Entre elos de poder, amizades e o sentimento de mentor-protegido, o filme narra a história das origens de uma importante dinastia americana. Fonte: Adoro Cinema
 
 
Verdade seja dita, esse filme quase não aconteceu, pois os grandes estúdios e serviços de streaming não quiseram produzir o filme. Hollywood se diz progressista, mas os poderosos da indústria do entretenimento não queriam arriscar e investir em um projeto sobre o então presidente, Donald Trump, em 2017. Quando ele perdeu a eleição para Joe Biden, os produtores ficaram esperançosos e acreditaram que conseguiriam vender o roteiro. Mas, ledo engano, depois da invasão do Capitólio dia 6 de janeiro, os executivos em Hollywood fecharam as portas para o projeto de vez.
 
Ironicamente, foi um bilionário, genro de um aliado de Trump, que financiou o filme. Quando ele e o sogro assistiram o projeto pronto, exigiram que uma das cenas fosse cortada, pois caso ao contrario eles não aprovariam a exibição do filme nos EUA. Eu não vou contar aqui qual é a cena para não dar spoiler, mas já adianto que a cena não foi cortada pois, felizmente, outros dois investidores pagaram os bilionários, que saíram do projeto. Por isso, o diretor Ali Abassi disse em sua introdução que assistiríamos sem corte, como também será exibido pelo mundo afora.
 
 
O interessante é que não só os mandachuvas dos estúdios e streamers ficaram com medo de investir numa história sobre Trump, como muitos atores também não quiseram participar do projeto, como contou a produtora Amy Baer que, juntamente com a atriz Maria Bakalova, participou do papo que rolou depois da sessão, que serviu como uma pré-estreia do filme em LA.
 
“Engraçado que eu imaginei que muitos atores se interessariam em interpretar esse personagem que intenso e cheio de camadas interessantes. Mas me enganei, a maioria ficou com medo. O Sebastian estava com medo também, mas ao contrário da maioria, ele topou fazer com medo mesmo e o resultado é sensacional, como vocês viram. Sebastian, como eu, ficou encantado com o roteiro escrito pelo Gabriel, que é um jornalista muito competente, que cobre a vida e a carreira do Trump há anos. Esse é o tipo de projeto que eu busco produzir. Claro que a gente já imaginava que ia ser controverso, mais desafiador do que outros projetos que trabalhamos. Mas, sinceramente, eu não tinha ideia que o processo seria tão difícil e tão dramático. Até porque, a ideia sempre foi ter um diretor estrangeiro, que não tivesse a visão influenciada pela política estadunidense. Quando o Agassi topou, ficamos super contentes, mas como ele é iraniano não podia vir aos EUA, por conta da lei que bania a entrada de iranianos no país, durante o governo Trump, isso foi em 2017. Ele tirou o passaporte alemão, pois ele mora na Alemanha agora, e conseguiu entrar aqui. Ai a dificuldade foi conseguirmos investidores, ao mesmo tempo que procurávamos os atores. Foi uma jornada complicada. Quando nos preparamos para decolar, veio a pandemia. Eu confesso que pensei que não fosse acontecer mais, embora a gente não tenha pensado em desistir em nenhum momento. Com todos os altos e baixos, estamos aqui hoje e eu estou muito orgulhosa do resultado e feliz que vocês viram em primeira mão e que eu estou aqui com a Maria, que foi uma escolha certeira para interpretar Ivana Trump.”
 
 
“Foi uma honra e um desafio também participar desse filme. Nunca é fácil interpretar alguém tão conhecida como a Ivana Trump. Eu li o livro que ela escreveu, assisti todos os vídeos que encontrei no YouTube. O bom do casal Trump ser tão famoso é que consegui encontrar muito material que, definitivamente, me ajudou na composição da personagem. Mas, como o Sebastian, eu também tive medo, mas não perderia de forma alguma essa oportunidade. Eu lembro das conversas que tive com an Amy, o Abassi, sobre como eu me apaixonei pelo roteiro, assim que li. O interessante é que com a minha pesquisa, eu percebi como Ivana era uma mulher independente, até mesmo a frente do seu tempo. Ela era uma mulher de negócios, que construiu um império sozinha. A independência dela também irritava o ex. Foi muito especial conhecer melhor a Ivana. Eu gostei muito do resultado, a filmagem foi intensa, mas foi incrível viver os anos 70 e 80, que eu Maria não vivi. O figurino é perfeito, a maquiagem, os penteadas, sem contar que a caracterização também me ajudou bastante. Foi uma experiência inesquecível.”
 
O filme foi rodado em Toronto, no Canadá, mas você jura que está em Nova Iorque, nos anos 70/80. A fotografia é maravilhosa, o filme tem a cara das décadas. Eu viajei no tempo também com a trilha sonora. Isso sem contar com o elenco, tanto Sebastian Stan (que está cotado para receber uma indicação ao Oscar pela sua performance como Donald Trump), como Jeremy Strong, que depois do sucesso estrondoso de Succession, deu um show como Roy Cohn e Maria, que também está excelente como a ex-mulher de Donald.
 
 
Eu adorei o filme e estou feliz que apesar de todo o drama, será lançado nos cinemas nos EUA. Optei por não comentar detalhes porque é surpreendente entender como Donald Trump foi treinado para ser o Donald Trump que conhecemos hoje.
 
Eu acredito que como estrangeiros temos um olhar menos contaminado em relação ao Donald Trump, por isso fez diferença o diretor ser estrangeiro, assim como Sebastian que é romeno e a própria Maria, que é búlgara. Os estadunidenses se dividem nos grupos amo e odeio Trump. Mas, como Sebastian disse em sua entrevista no programa Jimmy Kimmel Live: “Todos nós temos um pouco de Trump”.
 
O que desconcertou o Kimmel, um crítico ferrenho de Trump, mas fato que arrogância e vaidade são característica que permeiam a indústria do entretenimento, tanto que Hollywood, que se diz tão moderna, não investiu e nem vai distribuir “O Aprendiz”, pois os executivos bilionários tem medo de assinarem embaixo de um projeto que foca em uma figura tão poderosa.
 
 
O advogado dele, Roy Cohen, que é considerado uma das piores pessoas do século 20, o preparou tão bem que o feitiço virou contra o feiticeiro. Quando estava a beira da morte, em consequência da AIDS, desprezado por Trump, Cohen disse: “Eu não acredito que ele está fazendo isso comigo. Donald caga pedra de gelo.”
 
Agora se o cidadão que é um vilão consegue ser magoado por Trump, imagina o que o Trump é capaz de fazer, o filme já vai dar para vocês uma palhinha, assim como Hollywood que mostrou sua verdadeira personalidade ao fechar as portas para esse projeto tão autêntico sobre seu arqui-inimigo.
 
Imperdível!
 

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