Painel com documentaristas indicados ao Oscar traz produções de 5 países diferentes pela primeira vez na premiação

Para fechar com chave de ouro a temporada de premiações, o Hollywood é Aqui seguiu a tradição dos últimos 10 anos e prestigiou os painéis com os produtores e diretores indicados ao Oscar nas categorias melhor documentário, melhor filme internacional e melhor filme, na série de eventos que acontecem na semana que antecede a entrega das estatuetas em LA.

 

 

Durante muitos anos, esses eventos foram realizados no prédio da Academia, em Beverly Hills. Mas, depois da inauguração do Museu da Academia, essas noites pra lá de especiais passaram a ser no David Geffen Theater, o belíssimo teatro do local.

A nossa primeira noite foi com os documentaristas indicados que, pela primeira vez na história do Oscar, representaram 5 países diferentes, Uganda, Chile, Tunísia, Índia e Ucrânia. Outro fato incrível é que três deles, “The Eternal Memory”, “As 4 Filhas de Olfa” e “To Kill a Tiger” foram dirigidos por mulheres.

 

 

Essa é uma das minha categorias prediletas e eu tenho um respeito e uma admiração imensa pelos cineastas que retratam a vida real, na maioria das vezes, com poucos recursos financeiros e muito investimento emocional, sem contar que em muitos projetos, eles arriscam suas próprias vidas para contar a história.

 

Bobi Wine: The People’s President

É preciso muita coragem e determinação para enfrentar os desafios e rodar um documentário como “Bobi Wine: The People’s President”, por exemplo. Moses Bwayo, um dos diretores que estava presente no painel, compartilhou as consequências desse projeto na sua vida pessoal, “eu levei um tiro durante as filmagens, quem assistiu ao documentário deve lembrar. Foi doloroso fisicamente, mas eu sabia dos riscos ao participar do projeto e estou muito orgulhoso e feliz com o resultado e a projeção internacional desse trabalho. Mas eu e minha família tivemos que deixar Uganda, nosso país, e estamos morando aqui nos EUA, que nos deu asilo político, pois, depois do documentário, seria muito arriscado pra gente ficar por lá”.

 

“Bobi Wine: The People’s President” é um documentário ugandense-britânico-americano de 2022 escrito e dirigido por Christopher Sharp e Moses Bwayo. Ele narra a campanha presidencial do popular cantor ugandês Bobi Wine contra o líder do regime de longa data, Yoweri Museveni. Fonte: https://en.m.wikipedia.org

 

Eu assisti “Bobi Wine: The People’s President” em maio do ano passado, em um centro cultural lindíssimo, numa noite que contou com a presença de Moses e outros produtores que nos receberam com um jantar delicioso, open bar e, ainda, o show de uma banda de Uganda. Foi um evento tão memorável quanto o documentário em si que é, de fato, uma aula de história e resiliência na luta contra um regime ditatorial. O documentário, que foi produzido pela National Geographic, está disponível gratuitamente no canal deles do YouTube. Imperdível conferir.

 

The Eternal Memory

Maitê Alberdi, que dirigiu “The Eternal Memory”, não pode comparecer ao evento, mas mandou um recado exaltando a indicação de filmes internacionais nessa categoria, “eu me sinto muito honrada em fazer parte desse grupo de cineastas de 5 países diferentes, esse reconhecimento da Academia é muito importante pois abre as portas para histórias relevantes, que estão acontecendo pelo mundo afora, serem vistas e ganharem uma projeção maior, graças a indicação ao Oscar e isso é sensacional”.

 

“The Eternal Memory”: Augusto Góngora e Paulina Urrutia são um casal há 23 anos. Augusto é um dos jornalistas culturais e apresentadores de televisão mais proeminentes do Chile. Sua esposa, Paulina, carinhosamente chamada de “Pauli”, é uma atriz que atuou como ministra da Cultura e das Artes do país de 2006 a 2010. Há oito anos, Augusto foi diagnosticado com Alzheimer e, desde então, Paulina cuida dele. Ao longo de sua carreira, Augusto se dedicou a garantir que as atrocidades da ditadura de Pinochet não fossem esquecidas. Hoje, cabe a ele e à sua esposa manter a sua identidade, apesar dos desafios da sua doença. A cada dia, o casal enfrenta as dificuldades causadas pela doença de Alzheimer, mas também mantém a ternura e o senso de humor que os une. Fonte: https://en.m.wikipedia.org

 

 

Eu vi “The Eternal Memory” no canal da Paramount Plus. Me senti parte dessa história de amor. Foi uma daquelas experiências cinéfilas que marcam o coração pra sempre. Como disse a diretora, não é uma história sobre o que uma pessoa com Alzheimer esquece, mas sim uma história sobre o que vale a pena ser lembrado. Belíssimo!

 

As 4 Filhas de Olfa

O formato inovador deste doc dirigido por Kaouther Ben Hania foi o que mais chamou a atenção dos críticos e do público para o projeto, como ela comentou no painel, “Olfa já tinha compartilhado a sua história nos veículos de mídia locais e ela sofreu muitas críticas, inclusive de jornalistas. Quando eu a conheci, ela não acreditava e nem confiava mais na mídia, ela estava com medo e não queria mais falar para não sofrer. Então eu resolvi propor uma forma diferente de contar a sua história e quando dei a ideia de trazer atrizes para atuar e reviver os acontecimentos, Olfa topou a ideia, pois é um formato mais novelesco que seria mais fácil do público entender e se identificar. Elas se emocionaram muito porque as atrizes que fizeram o papel das suas filhas mais velhas eram fisicamente parecidas com elas. Acabou sendo um processo catártico para Olfa suas filhas mais novas, uma espécie de terapia, e para mim foi um projeto inovador e um aprendizado também”.

 

“As 4 Filhas de Olfa” é um drama dirigido por Kaouther Ben Hania e que acompanha a vida de Olfa Hamrouni, uma mulher tunisiana mãe de quatro filhas. Um dia, suas duas filhas mais velhas desaparecem. Para contar essa história, a diretora escalou duas atrizes que passaram a viver com Olfa por um tempo. Assim, o filme desvenda a trajetória da vida de Olfa e de suas filhas, mergulhando em uma jornada íntima de esperança, rebelião, violência e irmandade, que questionará os próprios valores de nossas sociedades. Fonte: AdoroCinema

 

 

Eu recebi um link para ver “As 4 Filhas de Olfa” e achei um dos documentários mais impactantes e criativos que assisti nos último anos. A ideia de trazer as atrizes para interpretarem as 2 filhas que estavam ausentes foi brilhante. A combinação entre realidade e a versão da realidade recriada pelas atrizes e pela família de Olfa nos aproxima da jornada daquela família de mulheres fortes. Esse documentário tem muitas camadas sobre a realidade das mulheres, os abusos que sofremos dentro e fora de casa, a necessidade de se rebelar, a lavagem cerebral em prol da religião. Em suma, a história de Olfa e suas filhas representa a história de muitas mulheres pelo mundo. Vou pensar sobre “As 4 Filhas de Olfa” durante muito tempo. Obra de arte! Imperdível.

 

To Kill a Tiger

A diretora Nisha Pahuja destacou o papel do pai da vítima na difícil jornada de punir os responsáveis pelo estupro de sua filha adolescente, compartilhou as dificuldades que a sua equipe sofreu durante as filmagens e a decisão da menina em mostrar seu rosto no filme, “a força do pai e da família em não se deixar levar pela pressão social e machista na vila e seguir denunciando o crime e os culpados foi inspirador para todos nós. A pressão para calar a vítima era tão grande que decidi incluir no filme o trecho onde a nossa equipe foi agredida por estar fazendo o documentário, que denunciava o ocorrido e os estupradores, assim ficaria mais claro para os espectadores a dura realidade daquelas meninas e mulheres que sofrem violência sexual em vilas como aquela todos os dias. E a decisão da Kiran (pseudônimo da vítima usado no filme) em revelar seu rosto, tornou a história ainda mais especial. Quando começamos o projeto ela tinha 13 anos, mas quando mostramos pra ela o primeiro corte editado, ela já tinha 18 e decidiu mostrar seu rosto. Com isso muitas pessoas passaram a entrar em contato com ela, se identificaram, outras vítimas e familiares perderam a vergonha e começaram a compartilhar sua experiência e esse processo foi importante pra ela também. E, pessoalmente, pra mim é muito tocante pois mostra o poder do documentário e a importância de contar histórias como a da Kiran”.

 

“To Kill a Tiger” é um documentário canadense de 2022, dirigido por Nisha Pahuja. O filme é centrado em uma família em Jharkhand, na Índia, que faz campanha por justiça depois que sua filha adolescente foi brutalmente estuprada. Fonte: https://en.m.wikipedia.org/wiki/

 

 

Infelizmente eu não consegui ir na screening de “To Kill a Tiger” mas, pra minha felicidade, o documentário estará disponível a partir do dia 10 de março, na Netflix. A temática e a repercussão já mostram a importância desse filme ao apresentar ao mundo a luta de uma família, contra a crueldade e a impunidade. Só por isso, já leva nota 10!

 

20 Dias em Mariupol

“20 Dias em Mariupol” foi o primeiro documentário que vi na corrida do Oscar esse ano. Tive o privilégio de ir a uma sessão que contou com um bate-papo com o diretor. Contei todos os detalhes na matéria que compartilho aqui:

 

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