VALE O TICKET! “Eu Não Sou Seu Negro” mostra a realidade do sistema político nos EUA

Em janeiro, tive o prazer de assistir uma sessão documentário “Eu Não Sou Seu Negro“, que contou com a presença do diretor Raoul Peck e do narrador Samuel L. Jackson em Los Angeles.

Indicado ao Oscar 2017, é uma obra de arte como contamos neste post. Foi especial conhecer o diretor e Samuel L. Jackson, uma das grandes estrelas de Hollywood, que ressaltou a importância de contar ao mundo essa história, especialmente neste momento politico dos EUA. No bate-papo, após a exibição do documentário, o ator lembrou a todos que a segregação racial é ainda uma realidade, mas que devemos lutar contra e não incentivar ações que intensifiquem o preconceito racial. “Eu Não Sou Seu Negro” é uma das formas de conscientizar a população das sérias consequências que a segregação racial causou ao povo norte-americano, e que não deve se repetir.

Foi uma noite especial, inspiradora e de muito aprendizado, eu particularmente desconhecia os fatos apresentados neste filme que valeu pra mim tanto quanto uma boa aula de história. Imperdível assistir!!!

Por: Matheus Fabbris

Além da incrível screening do documentário em Los Angeles pela Claudinha, também fomos convidados para conferir o documentário “Eu Não Sou Seu Negro” em São Paulo. Tanto lá, como aqui, quanto aí, tenho certeza que abriu e abrirá os olhos de muitas pessoas.

O escritor James Baldwin escreveu uma carta para o seu agente sobre o seu mais recente projeto: terminar o livro Remember This House, que relata a vida e morte de alguns dos amigos do escritor, como Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King Junior. Com sua morte, em 1987, o manuscrito inacabado foi confiado ao diretor Raoul Peck.

O documentário foi essencial para mostrar ao público a figura do Baldwin. Sempre com a língua afiada, palavras certas e selecionadas com cautela. Um elemento que me intrigou foi que James era uma GRANDE personalidade no meio LGBT, mas que infelizmente sua sexualidade foi deixada de lado. Fiquei imaginando a influência e relevância que o assunto teria, sem se deixar focar na posição política “extrema-esquerda”. Mas a premissa não é essa, né? Não hoje.

O documentário é muito mais que a ideia. É a imagem do negro no mundo que causa a segregação. É a ignorância. É a opressão. É a exclusão. Todos os fatores englobam em apenas um foco: a luta.

“Se qualquer homem branco diz: ‘dê-me a liberdade ou a morte’, o mundo branco aplaudade. Quando um homem negro diz exatamente o mesmo, ele é julgado como um criminoso”.

A história dos negros nos Estados Unidos não é uma história bonita. Mas sim, intensa. Ainda mais com a voz de Samuel L. Jackson, que tornou tudo tão claro. Eu, como grande fã do Tarantino, já estava acostumado com o Samuel em filmes como “Pulp Fiction“, “Django Livre“, “Os Oito Odiados“, entre outros. Mas com a sua narrativa, foi o ponto-chave para o documentário.

Na verdade, propriamente dito, o documentário é uma continuação do livro de James Baldwin. E o escritor não teve pouca referência durante sua trajetória. Ele foi amigo de Martin Luther King Jr, Medgar Evers e Malcolm X, três grandes ícones mundiais. O livro contaria a vida e morte dos artistas e suas questões raciais nos EUA, mas Baldwin acabou falecendo em 1987 como vítima de câncer no estômago, então sua história foi finalizada com o documentário dirigido por Rauol Peck. E que finalizou muito bem, né?

Eu Não Sou Se Negro” foi indicado ao Oscar na categoria de “Melhor Documentário“, mas a disputa será apertada. “A 13ª Emenda“, “O.J.: Made in America“, “Fogo no Mar” e “Vida, Animada” também concorrem ao prêmio.

É muito interessante acompanhar como Baldwin e Peck problematizam o sistema americano e o cinema. É a desconstrução do preconceito racial. Um ponto por Baldwin que claramente me despertou interesse (como um publicitário em desenvolvimento), é a forma como ele se coloca ao entendimento sobre o racismo, já que para ele não é individual e sim ideológico, que deve ser sempre mostrado em propagandas, política e filmes.

Alguns acontecimentos do movimento pelos direitos civis na década de 50 ainda acontecem até hoje, como um bom exemplo: a repressão policial vivida pelos negros nos Estados Unidos. E nem vou me aprofundar nas regressões do governo (Obama para Trump). É uma realidade triste, que vemos até mesmo no Brasil, com tantos assassinatos de negros pela polícia racista.

O título “Eu Não Sou Seu Negro” me chamou muito a atenção. E não! Ninguém é o negro de ninguém. Eu já cansei de ouvir a expressão famosa “não sou tuas nêgas”, que nada mais é que o racismo disfarçado de humor. A expressão histórica remete à época em que mulheres negras eram usadas e vendidas. O negro não é o seu escravo e ele não pertence a você.

Temos que reconhecer o nosso lugar de homem branco, mulher branca, que seja. Nunca sentimos a dor de uma pessoa negra, então não podemos falar sobre essa dor. Mas como cidadãos que acreditam na igualdade, não devemos também ficar longe dessa luta (entre tantas outras sobre inclusão social). A mulher negra, por exemplo, é ainda mais oprimida pela sociedade. Você sabia que em sua questão salarial, ela, a mulher negra, recebe 70% a menos? Então o primeiro passo SEMPRE é o reconhecimento. Reconhecer que as mulheres são diversas e que mulheres negras por combinarem opressões como racismo e machismo acabam ficando em um lugar de vulnerabilidade. Temos que dar visibilidade às questões das mulheres negras, tendo em vista que sem essa massa, não existe feminismo. Se mulheres negras são mulheres, necessariamente o racismo tem que ser uma pauta feminista. É um ciclo, tudo interligado e um assunto MUITO importante.

O documentário pode não entrar em muitas salas de cinemas (o motivo, vocês já sabem) mas peço que POR FAVOR, procurem assistir. É um aprendizado.

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