Interrompemos a programação para falar de um tema não menos glamouroso do que as estrelas que colorem o Hollywood É Aqui: o Brasil! Vocês devem estar acompanhando pela televisão, internet e redes sociais a revolução que está acontecendo nestas últimas duas semanas no país. Revolução? Sim, porque a última vez que se viu um acúmulo tão grande de gente nas ruas protestando por melhorias públicas foi há mais de 20 anos. Quando os nossos pais e avós se libertavam da ditadura para fazer com que o Estado fosse democrático. Local onde o povo tivesse o poder de colocar e tirar quem quer que fosse para representá-los, isso se chama eleição.
Mas depois de conquistado esse direito, o povo parece ter se acomodado. Mesmo conseguido as Diretas Já, o impeachment (renúncia) do ex-presidente e atual senador Fernando Collor, a população relaxou. Lidamos com gente morrendo em filas de hospitais, pessoas ainda analfabetas, escolas públicas que mal tem professores, transporte público circulando com idade útil vencida, em estado deplorável, corrupção. A gente tem investimentos muito, mas muito maiores em eventos que serão de visibilidade do mundo, como as Copas e as Olimpíadas, estádios construídos com a última geração… Bem ao lado de favelas, unidades de saúde com poucos recursos de atendimento e várias outras injustiças contra o povo.
Na última quinta-feira, 13, foi noticiada uma verdadeira guerra nas avenidas de São Paulo. Em mais um protesto, inicialmente contra o aumento de passagem e os tão comentados 20 centavos, o batalhão de choque e a polícia militar tentou espantar os manifestantes com bombas de efeito moral, gás de pimenta e balas de borracha. Uma verdadeira selvageria que nem mesmo poupou os jornalistas que acompanhavam com gravações, fotos e relatos. Somente a Folha de São Paulo teve sete jornalistas feridos e, só depois disso, começou a tratar os manifestantes como pessoas preocupadas com o progresso, ao invés de rotulá-los como vândalos, que compõem uma minoria perceptível. Talvez se o prefeito Haddad desse ao povo, instantâneamente, o que ele queria, a redução da tarifa, ou até mesmo chamado os integrantes do movimento para conversar, tudo isso não teria acontecido.
Apesar da revolta com o prefeito Fernando Haddad e o governador Geraldo Alckmin, que assumiam a mesma posição irredutível de que não haveria acordo, agora é possível até mesmo agradecê-los por isso. Sem o não, sem as incitações de protestos violentos e vandalizados, a mobilização nas ruas não teria aumentado tanto quanto aumentou na segunda-feira, 17 de junho, para mostrar que são pacíficos, que a polícia não tem direito de tratá-los assim, que o Estado precisa ouví-los. As outras cidades do país e do mundo não teriam se comovido.
Lutar pela queda da tarifa ainda está em mente? Sim! Mas não é só isso, o povo quer mais, quer serviço público de utilidade, quando na Copa os visitantes têm mais direitos e comodidade do que nós, que vivemos aqui o ano inteiro. O povo quer a atenção dos políticos para escutar o que ele diz, afinal eles o representam e só estão ali porque o povo quer. O povo quer o direito de sair na rua e protestar pelo o seu direito, assegurado pela Constituição, sem que seja reprimido por pura violência gratuita. Há vandalismo? Sim, mas vocês podem analisar as imagens que saíram e saem, diariamente, e notar que os manifestantes não se misturam, um pequeno grupo é que tenta sujar o movimento e trazer a opinião pública contra a luta de direitos.
O mais importante: não se deixem levar por tudo que veem na televisão. Pode parecer brincadeira, mas boa parte do nosso país ainda não tem computador e sequer internet, uma outra parte também não consome jornal impresso ou revistas com frequência. A única forma de informação a qual possuem acesso ainda é a televisão. E nos últimos dias, assim como na época da ditadura militar, percebemos que alguns veículos de imprensa fazem questão de mostrar apenas o que acontece de ruim, de falar que tudo isso é só pelo aumento de passagem e ocultando alguns fatos. Vocês fazem parte da geração do futuro, que têm muito mais locais para acesso à informações, não se contentem com o que escutam apenas na televisão. Tem gente no seu Twitter e no seu Facebook postando notícias e imagens em tempo real. Esteja informado e atento aos acontecimentos. É bom para conversar com os seus amigos da escola, debater em casa e dizer, daqui um tempo, que você fez parte da história do país, mesmo sem ter ido às ruas. Aqui há uma lista de 24 coisas que você não viu na televisão, quando tudo começou.
A música tema destes últimos dias, e espero que por um longo e bom tempo, é do grupo O Rappa. “Vem pra rua” integra a propaganda da Fiat para a Copa, convidando os brasileiros a torcer pela seleção nos jogos. Mas, na realidade, ela serve de convocatória para quem ainda tem medo de vir para a rua. “Vem pra rua, porque a rua é a maior arquibancada do Brasil”. Aqui há um acervo de imagens sobre os movimentos.
E caso você queira protestar, sendo menor de idade peça a autorização dos seus pais. Não vá sozinho, tome cuidado. Aqui segue uma lista com dias e locais de onde haverá manifestação em várias cidades. Será muito bom poder sair às ruas e fazer parte dessa massa, mas sem vandalismo e violência! Siga os exemplos dos brasileiros daqui e de outros países que estão lutando por uma nova realidade. O mundo está ao nosso favor.