Oscar 2016: Prêmio é só glamour ou reconhecimento genuíno?

IMG_4978O assunto em Hollywood desde de que a Academia anunciou os indicados ao Oscar 2016 é diversidade. Isso porque Jada Smith, atriz e esposa de Will Smith, e Spike Lee iniciaram uma campanha de boicote ao Oscar pois nenhum ator ou atriz negro foi indicado, e o filme “Straight Outta Compton – A História do N.W.A” (que conta a história da explosão do gangsta rap), celebrado em outros prêmios, ficou de fora da lista dos indicados a melhor filme.

O resultado do movimento que ganhou a hashtag: #OscarSoWhite (O Oscar é muito branco) nas redes sociais, foi impactante. A ponto da Academia implementar mudanças radicais na votação a partir do próximo ano.

Eu como mulher, latina, apoio incondicionalmente qualquer atitude que possa abrir as portas para nós na indústria do entretenimento nos EUA. Daí vem meu entusiasmo, ao comemorar a vitória de dois mexicanos na categoria de melhor diretor, em 2014 (Alfonso Cuaron por “Gravity”) e 2015 (Alejandro Inarritu por “Birdman”)

Porém, todo este movimento me chamou a atenção para uma questão básica: você só é bem-sucedido em Hollywood quando ganha milhões e faz parte do seleto grupo de pessoas que vota no Oscar. Afinal, é a mensagem que fica de todo este disse me disse. Agora a minha pergunta que não quer calar é: E a arte de fazer cinema fica onde?

Os prêmios não seriam um reconhecimento da qualidade artística do filme? Da performance do ator? E por que e tão ofensivo assim não receber a tal indicação? Sim, todos lutamos pelo reconhecimento do nosso trabalho, e é super justo, mas para os apaixonados por cinema, o foco não seria atuar com amor e estar satisfeito com o aplauso do público?

88th Academy Awards, Nominations Announcements

A minha singela análise sobre as indicações a seguir é baseada em tudo que aprendi nos meus cursos de roteiro em LA nestes últimos 6 anos, e especialmente no meu amor pela arte e pela capacidade que um filme ou ator tem de me emocionar e fazer valer as horas que assisti ao filme. E sim, eu assisti todos os filmes mencionados neste artigo, indicados ou não nas categorias de melhor filme, ator e ator coadjuvante, ao contrário de alguns membros da Academia que não assistem todos antes de votar ou de pessoas que criticam e julgam também ser se dar ao trabalho de ver o material, eu acho imprescindível ver tudo antes de emitir qualquer opinião e dar qualquer pitaco. Não acredito em um julgamento de alguém que só viu o seu filme predileto. “Brooklyn” É meu candidato, mas não seria justo defendê-lo com veemência, se não tivesse assistido seus concorrentes.

88th Academy Awards, Nominations Announcements

Obviamente concordo que quem toma as decisões em Hollywood ainda É uma minoria de homens brancos, e isso precisa mudar. Mas discordo veementemente que as indicações deste ano tenham uma base racista. Acho sim que tiveram mais atores bons do que o número de indicados permitido na categoria de melhor ator, por exemplo (apenas 5), mas isso é a vida. Muita gente concorre a uma vaga de emprego, são todos ótimos profissionais, mas nem todos podem ser contratados. É simples assim, e me desculpe Jada Smith, mas não achei que Will (que já foi indicado 2 vezes ao Oscar) merecia um lugar na lista de 2016, não.

88th Academy Awards, Nominations Announcements

Assim como fiquei satisfeita que Ridley Scott e Spielberg ficaram de fora da categoria melhor diretor. Não me entendam mal, sou super fã dos dois, mas The Martian (“Perdido em Marte”) e Bridge Of Spies (“Ponte dos Espiões”), não rendem mesmo uma indicação aos seus diretores. Aliás, da mesma forma, discordo da Academia ao indicar estes títulos como melhor filme. São divertidos e foram um sucesso absoluto de bilheteria, mas eu não votaria neles, se tivesse a oportunidade mesmo. Eu acrescentaria a esta lista “99 Homes”, por exemplo.

Mas também não indicaria “Straight Outta Compton – A História do N.W.A”, simplesmente porque eu curti o filme, mas não achei brilhante ao ponto de render uma indicação. E confesso que concordei com os membros da Academia por deixarem “Carol” de fora. As atrizes estão excelentes e mereceram suas indicações, mas o filme deixou a desejar, mesmo sendo produzido pelos considerados “líderes” brancos da indústria, Harvey and Bob Weinstein.

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Sou zero racista, aliás seria até ridículo (ou é) no Brasil, onde absolutamente todo cidadão tem sangue negro correndo nas veias, ser racista, mas não é a cor da pele que determina a qualidade de uma performance.

Falando especificamente dos cinco indicados ao prêmio de melhor ator, eu concordo 100% com a indicação de 4 deles: mas eu não votaria no Matt Damon, que eu adoro, mas de novo não para indicá-lo aos Oscar por este filme. Mas o meu candidato substituto também não é negro, e sim o jovem ator Jacob Tremblay que está simplesmente brilhante em “ROOM”.

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Na categoria ator coadjuvante, muita gente ficou chateada que o ator Idris Elba, que sim esta incrível em “Beast Of No Nation”, não recebeu uma indicação. Mas verdade seja dita, este ano o nível de performance foi altíssimo e todas as indicações foram mais que merecidas também. Não é uma questão de injustiça com Elba, mas todos que estão na lista conquistaram seu lugar por total mérito.

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No mundo atual onde as pessoas estão cada vez mais caretas e preconceituosas, mudanças são necessárias, não só na indústria do entretenimento, como na sociedade de uma forma geral. Por isso, acho super importante que Hollywood tenha balançado e esteja começando a repensar sua estrutura e focar na diversidade. Mas ao mesmo tempo, não é com preconceito que se vence o preconceito. Não é indicando 5 atores negros ano que vem que a questão racial será resolvida. E nem se desculpando com o ator ou a diretora negra por eles não terem sido indicados, isso é colocar panos quentes, quando sabemos que a mudança só acontece se houver uma conscientização que boas histórias devem ser contadas muito mais pelo amor à arte do que para concorrer a uma estatueta. No dia que a própria classe artística, negros, brancos, latinos, asiáticos, lutar por isso, os filmes terão ainda mais qualidade, assim como as performances, e o reconhecimento virá naturalmente. Não só nas premiações, mas na bilheteria, dando a possibilidade de mais gente frequentar as salas de cinema, ou produzindo mais projetos brilhantes nas plataformas alternativas, como o Netflix (que produziu o documentário “What Happened, Miss Simone?” sobre a vida da cantora Nina Simone que foi indicado ao Oscar), Hulu e Amazon.

Me entristece um pouco este bafafá todo ganhar tanto espaço na mídia como uma disputa de poder de quem vota ou não, quem ganha ou não, e ver que a arte de fazer cinema foi mais uma vez colocada pra escanteio. Talvez esta seja a maior mudança que deva acontecer em Hollywood, os atores, produtores, diretores, roteiristas, tenham que aprender a fazer cinema por amor, e não pelo glamour e pelo poder. Acho que aí sim ganhar um Oscar faria muito mais sentido.

Como as mulheres merecem destaque no Hollywood é Aqui, publicaremos uma matéria especial sobre as mulheres em Hollywood e as indicações ao Oscar 2016 nas categorias de melhor atriz e atriz coadjuvante na próxima semana.

Lista completa dos indicados ao OSCAR 2016:

http://oscar.go.com/news/nominations/oscar-nominations-2016-the-complete-list-of-nominees

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Saiba mais sobre o boicote ao Oscar:

http://g1.globo.com/pop-arte/oscar/2016/noticia/2016/01/spike-lee-boicota-o-oscar-2016-por-ausencia-de-atores-negros-na-lista.html

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http://g1.globo.com/pop-arte/oscar/2016/noticia/2016/01/hollywood-se-rebela-contra-hegemonia-branca-do-proximo-oscar.html

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