Skype marcado para às 14h, no meio da semana. Enquanto aguardava o horário marcado, Luiza Florence já estava conectada e me enviado uma mensagem, avisando que já podia conversar. Começamos um pouco mais cedo e, de cara, pude ver a marca registrada da Cidade dos Anjos: o céu azul ao fundo com palmeiras ao redor. Era cerca de 9h em Los Angeles e Luiza procurava um local dentro de casa onde a conexão pudesse melhorar. Posteriormente, descobrimos que o problema era no meu áudio.
Simpática, a jornalista logo me abriu um sorriso e iniciamos a conversa que acabaria neste texto. Luiza Florence se mudou para os Estados Unidos desde 2006, para se tornar correspondente da revista Capricho, local que já trabalhava no Brasil. “Eu sempre quis morar fora e tinha parentes aqui, comentei com a minha chefe que meus tios haviam me convidado para vir para cá. Ela gostou da ideia e disse que a revista precisava de uma correspondente”. Ela trabalhou três anos vinculada a publicação e teria voltado ao país, mas decidiu ficar em L.A.
Atualmente, sua ocupação é com o programa Planeta Brasil, veiculado pela Globo Internacional. A moça conta que para quem quer trabalhar nos EUA há bastante burocracia: “As opções de trabalho acabam sendo restritas devido a documentação específica”, principalmente pelo visto, que deve indicar qual é a empresa que você trabalha.
A rotina de trabalho não é muito diferente do Brasil, não. “Continuo escrevendo da mesma forma, até porque também trabalho como correspondente, mas aqui a facilidade de entrevistar alguém, que parece de outro mundo, é bem maior. Esbarramos com eles na rua e isso acaba se tornando normal”. A pesquisa de campo, muito menos, é deixada de lado. Jornalismo é jornalismo em qualquer parte do mundo, ela mesma diz. Mas, principalmente, em Los Angeles, a pesquisa é maior. “Você acompanha por meses, assiste o filme, precisa falar corretamente os nomes, conhecer os rostos conhecidos e os desconhecidos. Tem que ter uma dedicação muito grande, não é só naquele momento da cobertura”, afirma.
“Não existe assistir Oscar e nem ir para a festa de Oscar”, diz ao relatar um dia cheio de trabalho. “Não é só fazer as coisas e ir embora”, ela lembra que ficou desde 6h30 ate às 23h cobrindo o tapete vermelho do Oscar: “trabalhar com entretenimento parece super divertido, mas também é super cansativo”. Nenhuma novidade e diferença para quem está no mercado nacional, as coberturas aqui também são longas e se iniciam bem antes do horário de veiculação.
Luiza também divide alguns fatos de backstage, uma perspectiva que ninguém vê. “A gente tava gravando o Oscar esse ano e tinha um colega de profissão todo bonito e arrumado, mas sem sapato, porque o pé dele estava apertado no calçado há cinco horas e ele não estava mais aguentando. E na televisão é tudo lindo”, há o cutucão da repórter ao lado para conseguir uma entrevista, os repórteres que ficam horas em pé sem conseguir comer ou ter um intervalo. Pequenos sacrifícios momentâneos para que o evento, e a pauta, sejam terminados com excelência.
Assim como em qualquer área, há a famosa puxada de tapete. Ação que, pela visão da jornalista, é inerente a localização. “Óbvio que a gente escuta história de sacanagem, de um passar a perna no outro… mas eu acho que isso não é só aqui. Não tem nada a ver com lugar, nacionalidade ou tipo de trabalho, isso tem em todo lugar. A magnitude aqui (Los Angeles) é que pode ser maior, porque a dimensão das coisas aqui é maior”.
Na vida pessoal, Florence conta que não teve muita dificuldade em se adaptar. “L.A. é um lugar super receptivo com vários tipos de pessoas em cada canto. Tem praia, cidade e gente de todo o mundo, você acaba encontrando onde pertencer, o que não dificulta a adaptação”. Com isso, ela observa que a qualidade de vida também melhorou. “Você trabalha a semana inteira, é um loucura, e consegue sair no fim de semana, quando não trabalho, para surfar, curtir a praia… eu acho que a qualidade de vida é bem diferente, não só a minha mas também a dos meus amigos, que já tem filho”.
Mas a saudade das terras tupiniquins e da família castigam um pouco, ela costuma vir ao país duas vezes por ano para rever entes e amigos e conversa sempre com a mãe pela internet. “Dá para segurar a onda, mas também não sei até quando, porque eu vejo meus pais envelhecendo e também perco datas em família, momentos importantes”. Para quem tem o mesmo sonho da Luiza, ou qualquer objetivo que almeja, ela diz: “para tudo há um sacrifício, você tem que abrir mão de alguma coisa ou sofrer de alguma forma para alcançar o que você quer. É preciso ter foco para chegar lá”.
E quando questionada sobre quando pretendia voltar ao Brasil, ela sorriu antes de responder. “Que pergunta, hein, Camila?”. Pude perceber, então, que este dia ainda está longe de chegar.