Por: Claudia Ciuffo
Um dos meus momentos mais emocionantes e importantes no Sundance Film Festival não foi necessariamente uma entrevista ou um filme que assisti, mas o painel das Mulheres que Quebraram Barreiras em Hollywood, promovido pela HFPA (Hollywood Foreign Press Assosication, que também promove o Globo de Ouro). O encontro contou com a presença ilustre de Octavia Spencer (atriz e nossa Insurgente favorita), Tina Lifford (atriz, “Queen Sugar”), Reed Morano (diretora e diretora de fotografia, The Handmaid’s Tale”, “I Think We Are Not Alone), Sandra Oh (atriz, “Killing Eve”) Cathy Schulman (produtora, presidente da Ong Women In Hollywood) e foi moderado pela experiente jornalista e membro da HFPA, Elisabeth Sereda.
Este grupo de guerreiras não só disse que apoia os movimento Me Too e Time’s Up. Elas compartilharam histórias pessoais que encorajam não só quem esta começando a carreira artística em Hollywood, mas todas as mulheres e jovens de qualquer indústria, de qualquer parte do mundo.
Octavia chorou quando contou como uma de seus melhores amigas, a atriz Jessica Chastain, peitou os poderosos da indústria do entretenimento para que Octavia ganhasse o mesmo salário que ela, num projeto (uma comédia) que ambas estão desenvolvendo juntas. Porque para quem não sabe, uma atriz negra ganha muito menos que uma atriz branca nos EUA. Mesmo Octavia, vencedora de Oscar e indicada a inúmeros prêmios, sofre essa discriminação. Às lágrimas, no painel, Octavia compartilhou como Jessica arregaçou as mangas e não só resolveu a questão da disparidade salarial, como, segundo Octavia, conseguiu que ambas ganhassem 5 vezes mais que o previsto inicialmente. Isso é que é parceria!
Tina é uma das estrelas da série criada por Oprah Winfrey e Ava Duvernay, dona de um astral inigualável, ela é daquelas que fala o que sente, e suas palavras representam o balanço entre a razão e a emoção. Segundo Tina, em seu set só sobrevive quem é educado, gentil, bacana, “Ava manda a pessoa embora se ela presenciar qualquer tipo de grosseria, lá não tem espaço pra bullying e nenhum outro tipo de assédio. As líderes do projeto tomaram as rédeas da situação e todo mundo sabe as regras. A gente trabalha duro, mas se respeita e se diverte muito, afinal, é pra isso que estamos nessa jornada”. Palmas pra essa galera inspiradora!
Reed ganhou destaque como diretora de fotografia, uma profissão dominada pelos homens em Hollywood. Mas garante que durante sua carreira foi respeitada, teve bons mentores e nunca viu diferença entre o seu trabalho e de seus colegas. Aos 7 meses, grávida de seu segundo filho, Reed carregava câmeras de filmar pesadas, e garante, “as crianças estão ótimas”. Vencedora do Emmy Awards, dado pela primeira vez em 22 anos, a uma diretora pelo episódio piloto de “The Handmaid’s Tale”, Reed é uma querida, meiga, fofa da vida, mas quando se trata do seu set de filmagem, mau humor não tem vez: “a gente tem muita sorte de poder trabalhar nesta indústria, fazendo o que a gente gosta, no meu set, se alguém chega de mau humor, mando embora pra casa, não quero ninguém que contamine o ambiente com baixo astral, isso não é necessário.” Gosto assim! Não podia concordar mais com ela!
Sandra foi estrela da série “Grey’s Anatomy” por anos, e quando decidiu sair recebeu o roteiro de “Killing Eve”, ela estava lendo no seu celular enquanto falava com seu empresário, procurando um papel de médica, secundário, como ela mesma compartilhou no painel. Quando não achou o antagonista, finalmente perguntou ao empresário que personagem ela deveria considerar. Ele responde: “a Eve, Sandra, a protagonista”. Ela, uma atriz bem-sucedida asiática, levou um tempo pra acreditar. Tamanha é a raridade de ter um personagem disponível para uma atriz de sua raça. Sandra fez uma mea culpa e disse que o fato dela não acreditar nela mesma, nesta altura do campeonato, é realmente alarmante e que a relação dela com a equipe e o elenco de “Killing Eve” está incentivando ela a ser mais confiante (aliás, toda a equipe e a criadora da série estavam lá para prestigiar Sandra!). Isso que dá a discriminação racial, alimenta a insegurança das pessoas, mas Time’s Up. Um brinde a equipe unida de “Killing Eve” e à nova era!
Cathy começou no entretenimento como assistente há mais de 25 anos, coincidentemente num filme dirigido por uma mulher. Ao longo dos anos, sempre lutou pelos direitos da classe, construiu uma carreira brilhante, mas como disse, para sua frustração, conseguiu produzir poucos filmes dirigidos por mulheres. Hoje, à frente de uma das ONGs que mais protegem os direitos trabalhistas das mulheres no entretenimento, ela vê no atual momento uma luz no fim do túnel para o começo de uma nova era e esta disposta a arriscar todas as suas fichas nesta nova empreitada. E nós apoiamos!
Mas do que encontrar celebridades e curtir um evento interessante num festival de cinema, o painel com essas guerreiras que, sim, quebraram muitas barreiras, foi uma injeção de ânimo na plateia para que a gente também arregace as mangas, junte forças e vá à luta em prol da conquista dos nossos objetivos, ajudando umas as outras. Isso sim é um sonho realizado!!!
Para assistir ao painel completo, acesse:
https://www.goldenglobes.com/video/watch-again-hfpa-panel-women-breaking-barriers-sundance-2018